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Com redes e sem sair de casa, iniciativa emprega mães pobres em São Paulo

Thalita Ribeiro
30 de Maio de 2018


Crédito: Visualhunt.com

A Kunla é uma iniciativa que emprega mães pobres que vivem em comunidades em São Paulo. Por meio de ferramentas como WhatsApp e Facebook, elas são a ponte entre empresas que buscam funcionários e pessoas que estão atrás de trabalho. Graças à tecnologia, elas não precisam sair de casa e podem tomar conta dos filhos ao mesmo tempo em que recrutam candidatos.

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Na prática, funciona assim – as mulheres se tornam agentes de recrutamento para a Kunla, passam a receber vagas de emprego e as divulgam entre candidatos que tenham o perfil requerido pelas empresas. A partir do momento o candidato é aprovado para a oportunidade, essa mulher é remunerada pela Kunla.

Oportunidade e comodidade do lar são as benefícios citados pelas consultoras da Kunla entrevistadas pelo Busca Voluntária. Maria Aparecida está no projeto há cerca de três meses, reside na Zona Sul São Paulo. Das vagas que recebeu, indicou uma média de dez pessoas para oportunidades de emprego.

“Conheci o projeto por meio de uma assistente social e tem sido muito bom. Não preciso sair de casa [para encontrar os candidatos]. Tenho um bebê de dois anos, se precisar, posso trabalhar com ele no colo”, afirma Maria. A profissional acrescenta que unir trabalho no ambiente do lar proporcionar o acompanhamento de perto do filho mais novo, e também do outro de nove anos.

Maria conta que não tinha muita familiaridade com computador e recursos digitais, mas, depois que entrou para a Kunla, aprendeu e consegue se virar. Por exemplo, ela não tinha o costume de pesquisar sobre algo de interesse na internet. Depois de começar no projeto, se familiarizou com as ferramentas online.

Arquivo Pessoal
Consultora Kunla e moradoras de comunidades de São Paulo

“[Além disso] é uma felicidade poder registrar alguém em um emprego. Um rapaz que eu indiquei e passou no processo seletivo veio aqui me agradecer, com o sorriso no rosto”, acrescentou Maria.

Esse também é o sentimento de Cristiane Gomes. Ela mora na Zona Leste de São Paulo e comenta sobre o contentamento misto ao participar do projeto. “É uma forma de trabalhar e ajudar quem procura por emprego. [Mesmo porque] entregar currículo, hoje, é quase sempre pela internet e em sites pagos. Sem remuneração, como dá pra pagar um valor fixo por mês?”

Cristiane conta que foi indicada por uma amiga e se interessou, pois tem uma bebê de três anos. Ela também acredita ser uma oportunidade para trabalhar e acompanhar o crescimento da filha. “Eu posso fazer meu horários, ter tempo para minha filha, meu marido e para mim.”

O negócio

“Com origem na língua esperanto, a palavra kunlaboro significa colaborar. Para concepção da marca, pensamos em algo forte, tanto para as empresas quanto para as mulheres em comunidade com pouco estudo”, afirma Leonardo Carneiro, um dos fundadores da Kunla. Ele conta que tinha um negócio de recrutamento e seleção, mas notou uma falha na comunicação – as vagas não chegavam aos candidatos.

“O empregador e o funcionário são dois extremos da sociedade. [A busca de empregos é feita pela internet] e, em comunidades, muita gente, de fato, tem celular. Mas há uma série de outros fatores que influenciam, como sinal e pacote de dados para uso.” Durante o seu projeto de mestrado, na Universidade de São Paulo (USP), Leonardo pensou um negócio diferente e trouxesse impacto social ao meio inserido.

Arquivo Pessoal
Moradoras participantes do projeto Kunla

Foi quando, então, a Kunla surgiu. O mestre em empreendedorismo pensou em criar uma ponte entre a empresa de seleção e os trabalhadores, ao dar oportunidade para mulheres e mães de crianças pequenas. “Pensei em uma pessoas que conhecesse a comunidade e pudesse espalhar as vagas de emprego. Escolhi as mulheres mães pois elas não têm com quem deixar os filhos, o que as impede de trabalhar.”

Leonardo comenta que pensou em contribuir para a independência da mulher. “Se ela não pode trabalhar, acaba dependendo de alguém e essa característica é comum em situações de abuso.” Ele acrescenta que essas mulheres têm um capital social – conhecer pessoas – que é uma das bases para um bom recrutamento e seleção.

Iniciativa

Leonardo define o projeto como um negócio social e explica os pilares que são base da iniciativa. “Ter um impacto social, ao capacitar e oferecer oportunidade a essas mulheres, e obter sustentabilidade financeira, uma vez que não somos uma ONG.”

Para o fundador, a Kunla ajuda no processo de democratização ao acesso a oportunidades de emprego e melhora qualidade de vida das pessoas. “As vagas são direcionadas às mulheres de acordo com a localização delas, em função da oportunidade de emprego. Então, a pessoa que ocupará a vaga vai residir próxima do trabalho. Ganham em qualidade de vida e podem até fazer um curso de formação antes de voltar pra casa.”

Sobre a quebra de barreiras, Leonardo comenta que as pessoas no meio empresarial são conservadoras e a Kunla causa estranhamento. “Já ouvi perguntas do tipo ‘essas mulheres dão conta e entregam o trabalho?’.” Entretanto, o profissional afirma que tenta romper com o preconceito.

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