Conviver com a Síndrome de Intestino Irritável não é tarefa fácil. A condição que afeta o sistema digestivo pode levar a uma vida de episódios de diarreia, longos períodos de constipação, náuseas, queimação e sensação de estufamento, além de cólicas e flatulência excessiva. “Os sintomas variam muito e cada paciente sofre de um jeito. Em comum entre eles está o comprometimento da qualidade de vida pelas dores constantes, além do sofrimento psicológico causado por momentos embaraçosos”, explica Mariana Maciel, especialista em medicina canábica.
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Por ser uma síndrome multifatorial, ou seja, sem causa única, o tratamento é diversificado. “Em primeiro lugar, é preciso ficar de olho no estilo de vida. Exercícios regulares, por exemplo, melhoram os sintomas de inchaço, contribuem com a saúde mental e ajudam no controle do peso”, diz Mariana. Manter-se hidratado, prestar atenção na rotina alimentar, evitar excesso de cafeína e álcool, além de aumentar o consumo de probióticos e alimentos com mais fibras estão entre as dicas principais.
“A recomendação passa por mudar os hábitos antes de procurar por tratamento medicamentoso. Se para alguns uma dieta gordurosa pode ser um problema, para outras longos períodos de jejum, depressão ou medo podem desencadear uma piora importante”, explica a especialista, que recomenda combinar os tratamentos para um resultado satisfatório.
Como alternativa terapêutica aos antiespasmódicos, antidiarreicos, laxantes e alopáticos comumente utilizados para tratar a síndrome, gastroenterologistas indicam cada vez mais o uso de cannabis medicinal. Conhecida pelo efeito benéfico para problemas de sono, depressão e ansiedade, o canabidiol, uma das muitas substâncias encontradas na planta cannabis sativa, pode ajudar a reduzir a inflamação, a dor abdominal e a melhorar a função intestinal. Além disso, o CBD, como é conhecido, possui efeitos anti-inflamatórios.
“Receptores e ligantes do sistema endocanabinoides são amplamente expressos em áreas e sistemas relevantes, dentro e fora do trato gastrointestinal. Estudos identificaram um papel importante para os canabinoides no controle das funções do trato intestinal em estados de saúde e doenças”, explica a médica. “Testes mostraram que o sistema endocanabinoide pode desempenhar uma função importante na regulação da secreção, função de barreira epitelial e viscosidade do trato intestinal, sendo um componente chave na manutenção da homeostase e de vários estados fisiopatológicos relacionados com o equilíbrio entre os sistemas nervoso, imunológico e endócrino do intestino”, completa.
A motilidade gastrointestinal – capacidade de o órgão realizar movimentos autônomos – impactada pelo tratamento com CBD, é um mecanismo do corpo para digerir os alimentos com os sucos digestivos e melhorar a absorção dos nutrientes nas quantidades convenientes. De modo direto ou indireto, a ativação de receptores canabinoides no trato gastrointestinal reduz esta motilidade, modula sensibilidade visceral, reduzindo as sensações de dor, e reduz a atividade do sistema imunológico – diminuindo a inflamação.
Eixo cérebro-intestino
Vale lembrar que doenças inflamatórias intestinais, incluindo a doença de Crohn e a colite ulcerativa, são doenças imunológicas crônicas, multifatoriais, do trato gastrointestinal resultado da interação entre fatores de risco ambientais, genéticos e epigenéticos que causam uma resposta imunológica da mucosa, levando à inflamação intestinal.
A partir da investigação cada vez maior da relação cérebro-intestino, outros efeitos do uso da cannabis são notados. Pacientes relataram seu uso para aliviar sintomas de dor abdominal, náusea, diarreia e anorexia, mas também para melhorar o humor e a qualidade de vida.
Diagnóstico da Síndrome de Intestino Irritável
Como não há um teste específico para diagnosticar a condição, o médico pode fechar o diagnóstico por meio de exame clínico. Dores abdominais frequentes e mudanças abruptas no funcionamento do intestino são sintomas. Um exame de fezes pode ser levado em conta, bem como amostras de sangue ou intervenções como colonoscopia.
“É preciso levar em consideração qualquer alteração e, caso seja necessário, procurar tratamento. Incômodos abdominais que parecem insignificantes podem esconder outras doenças mais graves, como câncer de intestino”, conclui Mariana.
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