Regras e planejamento ajudam crianças a superar isolamento

Da Redação

5 anos atrás

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Crianças sem aulas nas escolas, profissionais em home office, necessidade de isolamento social, famílias sob estresse diário. Para adaptar-se à realidade que se impõe ao mundo, devido à pandemia do novo coronavírus, uma atitude pode fazer a diferença neste momento: estabelecer uma nova rotina familiar. A orientação é da médica pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Ana Paula Scoleze Ferrer.

Ana Paula destaca que não há como prever quanto tempo levará esse isolamento preventivo e, por isso, é importante as famílias definirem novas regras da casa para esse período, sobretudo quem tem crianças no lar. “Cerca de 150 países já implementaram o fechamento nacional das escolas, o que representa mais de 80% da população estudantil sob esse regime”, aponta, citando dados da Unesco.

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“Para as crianças normalmente já é importante o estabelecimento de uma rotina diária e, nessa época de isolamento, mais do que nunca, precisam ter um planejamento que ajude a prever como será o dia, para sentirem-se mais seguras”, orienta a especialista, que atua no Centro de Desenvolvimento Infantil da Faculdade de Medicina da USP.

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O estresse é uma resposta fisiológica às situações adversas, que atinge tanto crianças como adultos, porém, as crianças geralmente são mais vulneráveis. São descritos três tipos: o positivo, o tolerável e o tóxico.

O primeiro é um desconforto de curta duração e de menor intensidade, representando oportunidades de aprendizado de novas habilidades, como estudar para uma prova. O estresse tolerável ocorre em situações indesejáveis, mas às quais a criança se adapta e enfrenta se ela contar com o apoio da família e de seus cuidadores. O último é o mais perigoso. Ele decorre de adversidades mais intensas, prolongadas ou repetitivas, que podem levar a prejuízos de saúde física e mental caso a criança não receba um suporte protetor.

“O estresse tóxico ativa sistemas hormonais, que podem trazer prejuízos de médio e longo prazos. Para evitar isso, as crianças precisam encontrar no cuidador, que normalmente são os pais, a figura que lhe dê acolhimento, segurança e que as ajudem a lidar com as incertezas e os medos que a sociedade tem enfrentado. Trata-se de um momento ímpar, no que diz respeito ao desenvolvimento de resiliência”, frisa a pediatra do Hospital das Clínicas.

Como muitos pais também estão sob situação de forte estresse, Ana Paula reitera a necessidade de estabelecer a nova rotina. Quanto antes isso for desenvolvido em cada casa, melhor será para criança e para toda família.

Educação domiciliar
Com a interrupção das aulas, muitos pais estão tendo que trabalhar em casa e assumir também um papel importante na aprendizagem das crianças. Para a especialista da USP, a nova rotina familiar tem que levar em consideração essa dupla necessidade.

Uma boa ideia é que seja desenvolvido um calendário, junto com a própria criança, separando os diferentes horários para cada atividade. O calendário indicará, por exemplo, o período no qual os pais possam estar próximos para auxiliar nas atividades pedagógicas ou lição, bem como a hora de brincar e de fazer atividades físicas, adaptadas ao espaço da casa.

Além disso, as crianças podem ajudar nas tarefas domésticas, selecionadas de acordo com cada faixa etária. É importante, ainda, que elas aprendam a respeitar os momentos em que os pais precisam trabalhar e que não podem ser interrompidos.

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Ainda sobre a nova necessidade de educação domiciliar, ou educação remota emergencial, termo que vem ganhando fama no mundo durante a pandemia, Ana Paula defende a relevância de encontros virtuais também para as crianças.

“Passa mais segurança e tranquilidade para elas perceberem que os amigos estão bem, que não estão doentes, e que, da mesma maneira que elas, estão nas casas deles, que também não podem sair”, avalia, acrescentando que, além da reunião da criançada por computadores e aparelhos de telefone celular, também é interessante, se possível, colocar as crianças em contato virtual com os professores.

Na prática

Confira as principais orientações da pediatra Ana Paula Scoleze Ferrer para as famílias em tempos de isolamento:

– Evite o pânico, selecionando as fontes de informação (cuidado com as fake news, que deixam as pessoas ainda mais assustadas, e esteja alerta com o que as crianças assistem na televisão e veem nas redes sociais);

– Não tente “enganar” as crianças, responda às suas dúvidas sem mentir, de maneira clara e adequada à idade; lembre-se de que elas precisam se sentir acolhidas e seguras;

– Explique que o isolamento é para evitar que a criança e que as outras pessoas fiquem doentes;

– Não dê certezas às quais ainda não se sabe, como por exemplo, qual será o prazo de retorno à normalidade;

– Estimule a criança a falar sobre os seus medos e inseguranças e esteja atento a manifestações indiretas de sofrimento, como irritabilidade, alterações de sono e retrocessos, como voltar a fazer xixi na cama, por exemplo;

– Desenvolva, junto com a criança, um calendário da nova rotina diária.

Necessidade de isolamento infantil
Há dois tipos de isolamento em épocas de pandemia: o preventivo e aquele quando a pessoa já está doente. Infectologistas do mundo todo reforçam que o isolamento preventivo é essencial na fase em que o Brasil se encontra, de crescimento do número de casos da Covid-19.

Mas uma dúvida ainda comum é sobre a necessidade e importância das crianças também serem isoladas, uma vez que os estudos mais recentes mostram que 95% das crianças contaminadas pelo novo coronavírus terão apenas sintomas leves/moderados ou serão assintomáticas.

De acordo com Ana Paula Ferrer, os países que trabalharam com o isolamento preventivo, sobretudo de crianças, conseguiram resultados melhores no controle da propagação da epidemia em seus territórios. “Um estudo realizado em Singapura comparou a efetividade das medidas para evitar a propagação do novo coronavírus e o fechamento das escolas foi uma das principais medidas adotadas”, informa.

Segundo ela, devido à dificuldade de manter as crianças sob todas as medidas de precaução – como a distância mínima entre uma pessoa e a outra, bem como não colocar as mãos na boca, nos olhos e no nariz – faz com que elas disseminem os vírus com maior facilidade.

A especialista destaca, ainda, que apesar de o conhecimento sobre a Covid-19 ainda ser restrito, em casos de outras doenças o que se sabe é que as crianças geralmente eliminam os vírus por períodos mais prolongados, mesmo estando assintomáticas, ampliando a propagação.

Por tudo isso, Ana Paula apoia o isolamento preventivo. “O fechamento das escolas é fundamental nessa fase. Mesmo com toda dificuldade gerada para a vida familiar, em especial às crianças, o benefício de ficar em casa se sobrepõe”, analisa.

Neste momento, então, é essencial ao país manter as medidas para evitar que o vírus circule em uma velocidade alta, levando muitas pessoas a ficarem doentes ao mesmo tempo e consequentemente a um colapso no sistema de saúde.

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Por Rogério Felipelli Vaquero – jornalista, autor do livro “Como viver 100 anos” e do Instagram Pai_Cria.

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