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Pegadinhas de pais em redes sociais impactam saúde dos filhos

Da Redação
26 de Dezembro de 2023


Crédito: https://depositphotos.com/br/in
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Recentemente, o desafio #eggcrackchallenge viralizou nas redes sociais e chamou atenção de mães, pais, responsáveis e especialistas. Nele, os tutores filmavam a reação de suas crianças ao quebrarem ovos em suas cabeças.

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Enquanto as crianças se mostram assustadas, tristes e surpresas, os adultos riem da situação. Eventualmente, tendências como essa vêm surgindo com maior frequência nas redes sociais. A busca incessante por curtidas e visibilidade por meio dessas “brincadeiras”, no entanto, gera controvérsias e coloca em risco a saúde mental dos pequenos.

A mestre em psicossomática e psicologia hospitalar pela PUC-SP e pós-graduanda em Neuropsicologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Irit Grau Kaufmann – credenciada à Rede Plus, da Care Plus –, explica que ao se deparar com esse tipo de situação, as crianças demonstram sentimentos de raiva, tristeza ou indignação, em decorrência da quebra de confiança e falta do afeto positivo.

“Essa quebra da confiança pode afetar sim, e muito, pois prejudica uma base psicológica essencial a qual chamamos de comportamento de apego seguro, que ocorre quando a criança vem desenvolvendo a relação afetiva e o vínculo afetivo com os pais”, descreve.

“Quando um fato como as pegadinhas em redes sociais acontece, essa base pode ser quebrada ou criar um mal-estar, insegurança ou confusão, fazendo com que ela questione: ‘quem me ama e dá afeto está me machucando ou rindo de mim à toa’”, esclarece Irit.

De acordo com a especialista, a quebra de confiança pode contribuir para o surgimento ou agravamento de questões relacionadas à saúde mental das crianças e adolescentes. “Dependendo do sentido e significado que a criança atribuir a esses eventos, ela pode se sentir traumatizada, contribuindo para o aumento da insegurança e medos que antes não existiam”, pontua a psicóloga.

Ela explica, ainda, que a capacidade de leitura das crianças sobre determinadas ações começa a se formar a partir dos 4 anos, conforme o seu próprio desenvolvimento. A partir desta idade, o pequeno consegue ter uma leitura corporal dos cuidadores, e a partir dos 6 anos, ocorre o desenvolvimento das funções executivas do cérebro, importante para a resolução de problemas. “Até então, a criança não tem essa capacidade, apenas comportamentos de reação a uma situação, puramente emocional”, esclarece Irit.

Por isso, as pessoas responsáveis pelas crianças devem ficar atentas às ações que exigem maiores noções sobre consentimento, senso de humor e desenvolvimento cognitivo infantil. Dessa forma, é importante que tudo seja muito bem explicado para as crianças, de acordo com sua capacidade de entendimento e idade. “Por mais que elas não entendam exatamente cada coisa, é essencial que os responsáveis verbalizem tudo desde sempre”, reforça a psicóloga.

Mais do que isso, pegadinhas em redes sociais, a exemplo do #eggcrackghallenge, podem indicar um comportamento narcisista dos adultos e a necessidade de reflexão em torno de suas próprias ações. “Os pais e responsáveis devem pensar em não fazer aos filhos o que não gostariam que fizessem consigo, exercendo a empatia e o diálogo, para que saibam o que é consentimento e, principalmente, para que percebam quem são suas crianças”, alerta Irit.

Como (re)construir laços

O ideal é evitar tais brincadeiras e agir para não as repetir, procurando conversar sobre o fato, com ternura e desculpando-se com a criança quando necessário. Além da influência de tendências desses comportamentos nas redes sociais, a especialista alerta para questões importantes e profundas que devem ser trabalhadas em psicoterapia. “Nesses casos, uma avaliação psicológica seria uma boa alternativa.”

Irit esclarece ainda que reconquistar a confiança da criança e estabelecer uma relação saudável entre as pessoas da família é uma construção conjunta. “Isso vem por meio de um fazer junto, sem ironias, sem bullying, ou seja, em parceria”, reflete. “Pais e filhos que têm um diálogo aberto em casa são pais que poderão enxergar, escutar de verdade e, portanto, ajudar seus filhos para que não sofram bullying e que, também, não façam bullying a outros colegas.”

Ela comenta, ainda, que crianças que passam por bullying muitas vezes não relatam essas ações aos responsáveis por vergonha ou medo e, por isso, a atenção do adulto é essencial para uma intervenção assertiva. “Aqueles cuidadores que conhecem seus filhos pelo olhar, tom de voz e postura corporal entenderão que algo pode estar acontecendo com eles”, ressalta.

O uso das tecnologias e plataformas digitais para entretenimento também deve levar em consideração alguns cuidados, como prestar atenção a vídeos, programas ou jogos que as crianças tenham acesso, para que se saiba quais conteúdos e linguagens estão apropriados para cada idade. Irit alerta, por fim, sobre a exposição de crianças em pegadinhas em redes sociais e outros contextos.

“Não é recomendada a exposição das crianças a veículos de mídia sociais. Caso isso ocorra, que seja de uma maneira que não afete as habilidades socioemocionais das crianças, dando a elas a possibilidade de aprendizados, a capacidade da empatia, o entendimento sobre como o outro se sente em determinadas situações, e a noção de como reagir da melhor forma em determinadas situações”, destaca a psicóloga.

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