Manhã de céu azul e dia claro. O sol começou tímido, mas se fez presente em mais uma quarta-feira de treinos da turma do Supirados, grupo de remada liderado pelo professor Ricardo Allmada. Os alunos de paddle board adaptado – esporte em que os praticantes, deitados em uma prancha, remam com os braços – enfrentaram quilômetros nas águas da represa Rio Grande, em São Bernardo do Campo.
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Nem as baixas temperaturas de começo de outono espantaram o grupo. Das seis pessoas que caíram na água (considerando Ricardo), quatro delas são com deficiência. Mesmo com diferentes limitações, o relato é universal – há liberdade e real inclusão na prática desse esporte. Na água, todos se sentem iguais.
“Isso é o real sentido de inclusão. É quando os cadeirantes conseguem fazer algo com quem não tem deficiência. Na água, com o paddle board adaptado, você não sabe quem tem ou não uma limitação”, afirma Ricardo.
Alan Mazzoleni é o mais antigo do grupo. Ele está desde o começo dos treinos, há quase quatro anos. “Na terra, a gente é limitado. Na água, não. Por exemplo, o Rica falou para seguirmos a Caren [aluna e voluntária às quartas-feiras] e podemos ir aonde ela for. Essa liberdade e acessibilidade é o maior prazer”, afirma ele.
O corpo sente a diferença com a prática do paddle board. “É um esporte que trabalha muito o tronco, então, ajuda muito”, diz Alan. “Às vezes, a galera vem aqui e vê ‘esses cadeirantes’ fazendo e acham que é fácil. Mas aí, remam 500 metros e cansam, pedem para voltar. ”
Rafael Oliveira é um dos mais novos no grupo. Ele participa do Supirados há dois meses. Sobre os benefícios para o corpo, o aluno também destaca o fortalecimento do abdômen. “Eu jogo basquete e tinha alguns movimentos para alongamento da prática que não estava conseguindo fazer. Depois que eu comecei aqui, fortaleci. Ajudou muito.”
O aluno conta que, com a prática de paddle board, pode descobrir músculos que não sabia que existiam e o que o ajudam no dia a dia. Esse também é o relato de Tiago Freitas. Ele sofreu um acidente de trânsito, teve lesão na medula há cerca de três anos e está com o Supirados há quatro meses. “[Com os treinos] estou descobrindo uma força que eu não tinha antes. Agora tenho de ganhar resistência.”
Rotina na água
Os alunos são levados para água em cadeiras de rodas. Uma vez no rio, e com colete salva dias, Ricardo faz alongamento no alunos antes de iniciar o exercício. Entre risadas e orientações, o grupo todo em pranchas e dividem-se em duas equipes para o treino do dia.
No dia que a reportagem do Busca Voluntária acompanhou a manhã de exercícios, a voluntária e aluna Caren Bellinghausen liderou uma das equipes. Ela é praticante de stand up paddle (prática em pé, na prancha, em que a pessoa se locomove com a ajuda de um remo) e inspira-se com os alunos.
“Eu tenho um prazer enorme de praticar o esporte. Então, fico imaginando eles, com a limitação e tendo a possibilidade fazer o que querem”, afirma Caren. Ela comenta também sobre a evolução dos alunos na água – todos chegam com receio, mas o progresso é nítido.
“Mesmo eles não tendo o movimento, por conta da medula ter sido prejudica, o músculo ainda está ali. Então, eles ficam mais fortes e mais resistentes. Ajuda na circulação e rende vários benefícios só com esse estímulo”, acrescenta Ricardo.
Cabeça em paz
Não só o corpo sente os benefícios do exercício. Os alunos comentam que a mente sente as melhoras com o paddle board. “A energia da prática do esporte é muito legal, fora a socialização e integração com a galera. Ele é individual, mas é coletivo – todo mundo se ajuda e dá dicas”, afirma Alan.
Rafael define o que sente em três palavras: paz, silêncio e liberdade. O aluno Lauro José de Souza resume a manhã de forma semelhante. “Você esquece que é deficiente ou que tem alguma limitação física.”
Seja na mente ou no corpo, esses benefícios podem ser sentidos também pelos familiares, como é o caso do aposentado João Jorge. Ele é sogro do Thiago e comenta o progresso do genro. “Ele está bastante empolgado, desenvolveu muito, está 70% independente. É bom para trabalhar o corpo e a mente, principalmente para não cair em depressão. ”
Sebastiana Rodrigues é esposa de Lauro, o acompanha em todos os treinos e acredita que a iniciativa de Ricardo poderia receber mais apoio. “Não há ajuda fixa nenhuma. Às vezes, eles conseguem algum desconto – uma passagem, hospedagem. Mas se tivesse um incentivo seria ótimo.”
Ela afirma que considera a prática muito importante, sobretudo para os mais novos. “Eles recebem apoio, se sentem mais gente mesmo. ”
Acompanhe no vídeo relatos como esses:
Serviço
Allmada e Supirados
Site: http://allmada.com.br
Treinos: Riacho Grande, São Bernardo do Campo
Telefone: (11) 4177-2000
WhatsApp: (11) 9 6199-1786