Três vezes por semana, o Centro Recreativo Esportivo Especial do Bairro Assunção (Creba), em São Bernardo do Campo, recebe o time de basquete adaptado da Associação Desportiva para Pessoas com Deficiência Física – a Adesp. José Sacerdote da Silva faz parte da comissão técnica do grupo há 16 anos e compartilha da rotina e evolução dos atletas. A família também tem seu papel – seja de apoiar ou torcer pelos meninos.
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Em duas horas e meia, os treinos são acompanhados de perto por Zezão – apelido pelo qual o professor é conhecido por todos. O profissional conta sobre a trajetória de quase 30 anos da entidade. “Somos uma ONG voltada para o esporte, que começou com três cadeirantes do Farina [bairro de São Bernardo] – eles não tinham local para prática de atividade física e esportiva.”
Zezão conta que o time é composto por 14 atletas e associado à Federação Paulista de Basquete Sobre Rodas. Desde o início da entidade até os dias atuais, o profissional viu o cenário do deficiente físico mudar, mesmo com existência de barreiras nos dias atuais. “O deficiente, há 40 anos, era deixado em casa. A maioria dos que estão aqui são casados, têm filhos. São parte da sociedade.”
Durante o treinos, partidas de curta duração e prática de técnicas específicas são feitas pelos atletas. A melhora da saúde é acompanhada pela evolução como jogador, mas a interação social é algo que ultrapassa os benefícios proporcionados ao corpo citados pelo professor. “É uma motivação estar com um grupo que pratica uma atividade. Com as redes sociais, eles se comunicam, interagem. De sexta-feira, por exemplo, eles saem daqui, vão para pizzaria”, conta Zezão.
Apoio e Rotina
Dirigir e trabalhar eram ações pouco comuns para um cadeirante até não muito tempo atrás, assim como praticar algum esporte. O basquete adaptado teve início no Brasil em 1958, com os atletas Sérgio Del Grande e Robson Sampaio. As cadeiras contam com rodas mais largas e mais inclinadas, de forma a proporcionar mais velocidade e equilíbrio nas partidas.
Um tombo e outro podem ser vistos com frequência durante os jogos, mas a persistência é algo presente no grupo e ajuda na superação diária de forma individual. “Alguns atletas chegam com bastante dificuldade de sair do carro, por exemplo, ou para desarmar a cadeira sozinhos. Depois de dois ou três meses no basquete, conseguem uma autoconfiança para fazer coisas que não conseguiam sem ajuda”, afirma Zezão.
O professor lembra do papel da família para incentivo e apoio ao cadeirante. Zezão comenta que trabalhar a independência e pensar em caminhos para que eles façam o que querem é importante. “O esporte é um dos meios para isso.”
Aposentado e em São Paulo a passeio, Nelson Antônio Pires acompanha o treino do filho quando está pela cidade. Ele reside em Goianésia (GO) e conta que achou estranho quando o filho chegou em casa dizendo que começaria no basquete. “Ele tem distrofia medular espinhal, o que afetou suas pernas. Mas resolvi começar junto com ele para dar incentivo.”
Nelson conta que, com a prática do esporte, o adolescente (à época) ganhou força nos membros superiores e mais autonomia no dia a dia. “Ele conversa e brinca mais com as outras pessoas, também. Deu uma desinibida.” Para ele, o esporte beneficia além do corpo – é uma oportunidade para pessoa sair de casa, conhecer novas amizades e entender melhor a condição.
“Esse esporte ainda não é muito difundido ainda, não. O basquete em cadeira de roda tem pouca torcida, o brasileiro ainda não acostumou ainda com isso. Mas acho interessante, pois dá liberdade às pessoas que têm limitação ou algum problema”, finaliza Nelson.