Entenda as principais dúvidas sobre suicídio e como lidar com cada uma
O Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio, uma campanha importante para abordar um fenômeno complexo. O objetivo é estimular o debate sobre o tema para garantir ajuda e atenção adequadas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de morte no mundo entre a população de 15 a 29 anos. Anualmente, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida, porém nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas.
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Nas unidades da Cia. da Consulta, a psiquiatria é a terceira especialidade mais procurada entre os pacientes. O psiquiatra Caio Pinheiro respondeu as principais questões sobre o tema e deu algumas dicas importantes sobre como agir e ajudar:
– Quais os comportamentos mais comuns que podem ser considerados indícios?
Muitas pessoas em risco de suicídio estão com problemas em suas vidas. Isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gosta, descuido com aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite, frases como ‘“preferia estar morto’” ou ‘quero desaparecer’ podem indicar necessidade de ajuda. É importante ficar atento às frases de alerta, pois por trás delas estão os sentimentos de pessoas que podem precisar de apoio emocional. E, é preciso investigar e buscar um especialista, sempre que possível. Quando identificado, o profissional de saúde pode ajudar a diminuir o risco de suicídio.
– Como lidar com uma pessoa que apresenta esses indícios?
A primeira medida preventiva é entender que falar sobre o suicídio é proteger o próximo. Ouvir atentamente e com calma, entender os sentimentos com empatia, expressar respeito pelas opiniões e valores, conversar honestamente, mostrar sua preocupação, cuidado e afeição e focar nos sentimentos da pessoa. Essas atitudes são medidas que podem ajudar quem está com o risco de suicídio e aliviar a dor psíquica. O melhor caminho é a conversa, quebrar tabus e compartilhar informações para que seja estimulado o diálogo. Saber reconhecer os sinais de alerta é um passo crucial.
– Quais as características próprias de quem está sob o risco de atentar contra a própria vida?
Indivíduos com características suicidas podem ter comportamentos semelhantes que costumam ser próprios do estado em que se encontra a maioria das pessoas sob risco de suicídio: ambivalência – quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver; impulsividade – pode ser um impulso transitório e durar alguns minutos ou horas, normalmente desencadeados por eventos negativos do dia a dia; e rigidez/constrição – a consciência passa a funcionar de forma dicotômica: tudo ou nada, e pensam constantemente no tema como única solução.
– Que tipo de fatores costumam desencadear a motivação suicida?
Existem alguns fatores predisponentes que aumentam o risco de suicídio: histórico familiar, alcoolismo ou outros vícios, transtornos mentais, tentativas de suicídio prévias, doenças físicas, desesperança, isolamento social, pertencimento a uma minoria étnico-sociais (mulheres, negros e população LGBT) ou sexual (homossexuais e transexuais), ter passado por abuso físico, emocional ou sexual. Assim como outros pontos como desemprego ou aposentadoria. Os fatores precipitantes – que desencadeiam uma crise de suicídio – incluem a separação conjugal, ruptura de relação amorosa, rejeição física e/ou social, alta recente de hospitalização psiquiátrica, graves perturbações familiares, perda de emprego, modificação da situação econômica ou financeira, gravidez indesejada (principalmente para solteiras), vergonha e temor de ser descoberto por algo socialmente indesejável.
– Todo depressivo tem pré-condição para ser um suicida?
É preciso desconstruir que a depressão é o único fator de risco para o suicídio, pois todos os outros transtornos psiquiátricos podem motivar um ato suicida. Nem todo suicídio está associado à depressão e também nem todo paciente deprimido quer se suicidar. A depressão tem diversos estágios e o suicídio é um dos atos mais graves. Ele vem, muitas vezes, com a sensação de desesperança em relação à melhora, de um sofrimento psíquico que é muito forte e profundo.
– Somente pessoas com transtornos mentais têm comportamento suicida?
Estima-se que em até 90% das vezes o suicídio está associado a transtornos mentais. Mas há os casos de pessoas que agem pelo impulso, com tentativas não relacionadas a transtornos mentais.
– Quem planeja se matar está determinado a morrer?
A sensação de desesperança muito profunda faz com que algumas pessoas pensem na morte como uma solução. Elas podem chegar a planejar esse ato suicida, mas, nem sempre, já tomaram a decisão. O pensamento não está necessariamente associado ao plano de um ato suicida. Mas pode ser um sinal de alarme importante e merece atenção muito intensa. São necessários cuidados e certa vigilância.
– Pessoas que falam sobre suicídio estão procurando ajuda ou suporte?
As pessoas que conversam sobre o suicídio estão abertas a falar sobre o tema e, geralmente, o fazem como uma maneira de pedir ajuda. Muitas vezes elas dividem seu pensamento pela angústia de lidar com o assunto e para buscar um acolhimento.
– A maioria dos suicídios ocorre sem alerta?
Existem alguns comportamentos comuns que, quando associado a outros transtornos psiquiátricos, podem ser sinais. Como indivíduos que se preparam para solucionar problemas pendentes e fechar ciclos para deixar suas questões resolvidas. Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam haviam sinalizado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.
– Perguntar se a pessoa está pensando em se matar pode induzi-la ao suicídio?
Quando conhecemos alguém que está com problemas, dificuldades ou sofrimento, conversar e buscar entender o que a pessoa está passando e sentindo nesse momento são fatores protetores. Não se deve ter medo de abordar o assunto, pois sozinha a pessoa pode se sentir sem apoio. Dessa forma, é possível criar uma rede de suporte entre familiares e amigos.
– Quem se mata é fraco?
Não. O suicídio vem como uma solução de algo que gera uma angústia muito intensa. O que dirige a ação auto infligida é uma dor psíquica insuportável, e não uma atitude de covardia ou coragem.
Precisa conversar?
Os voluntários do Centro de Valorização da Vida estão lá para te ouvir. Ligue para o número 188 de qualquer telefone fixo, smartphone ou orelhão.