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Covid-19 pelo mundo: influenciadores de Orlando falam sobre os impactos da pandemia

Beatriz Ceschim
30 de Abril de 2020


Crédito: Divulgação
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Castelos, princesas, simuladores, animais fantásticos, heróis e vilões, outlets,  restaurantes temáticos e muitas, muitas pessoas por todos os lados. Orlando, na Flórida, é um dos destinos mais turísticos do mundo e um importante centro comercial no sul dos Estados Unidos.

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Em 2019, por exemplo, 75 milhões de pessoas foram à região, contra 72 milhões no ano anterior, segundo o Visit Orlando, órgão oficial de marketing e turismo da região. Por isso, a cidade está acostumada a receber pessoas de todas as partes do mundo. Estima-se que, só de brasileiros, foram 893 mil visitas no ano passado.

De uma hora para a outra, porém, o conto de fadas se transformou em pesadelo. A terra da magia, mundialmente conhecida pelos parques temáticos da Walt Disney World, da Universal Orlando e do SeaWorld Parks and Entertainment, é uma das que mais sofrem consequências com a pandemia do covid-19.

Os complexos de lazer e os restaurantes foram fechados por conta da quarentena, o que gerou impactos diretos na vida de quem estava acostumado a presenciar, diariamente, muitos sorrisos. E o pior de tudo é que o futuro por lá é nebuloso.

Impacto inicial

Moradora de Orlando desde 2002, a paulistana Carolina Grabova, que trabalha com a indústria de convenções, além de ser atriz, se deu conta da dimensão da pandemia muito antes da maioria das pessoas.

“Estava monitorando as notícias que chegam de fora e comprei o básico antes de o abastecimento geral ser afetado. Fora isso, comecei a evitar os parques desde fevereiro por conta da facilidade de contaminação em meio à aglomeração de pessoas”, relata.

Arquivo pessoal
Carol Grabova
A paulistana Carolina Grabova mora em Orlando desde 2002

De acordo com Carolina, a indústria de eventos, na qual ela trabalha, foi a primeira a ser afetada na cidade, já que as convenções foram canceladas. “Meu último trabalho foi no fim de fevereiro, muito antes de anunciarem o lockdown e a quarentena”, afirma. “Além disso, como tenho uma conta no Instagram relacionada a turismo, não queria passar um falso sentimento de segurança ou incentivar o oposto das precauções recomendadas, que eram permanecer em casa e respeitar o distanciamento social”, acrescenta.

Fechamento dos parques

Carolina estava antenada e se precaveu, mas muita gente, infelizmente, não teve a mesma percepção. Mesmo após diversas cidades turísticas espalhadas pelo mundo decretarem lockdown, a ficha demorou um pouco para cair em Orlando.

Muitos foram, por exemplo, os casos de turistas que cancelaram suas viagens para a terra da magia apenas em 14 de março, um dia antes de os parques da Walt Disney World e da Universal Studios fecharem as portas. E até mesmo os influenciadores mais experientes em relação à cidade foram surpreendidos.

“Confesso que, num determinado momento, já esperava que os centros de lazer pudessem ser fechados, mas acho que quase ninguém imaginava que fossem ficar tanto tempo sem funcionar”, relata a blogueira e agente de viagens brasileira Andreza Trivillin, que mora em Orlando há um ano e meio. Até o momento, nenhum complexo anunciou a data de reabertura.

“O impacto desse fechamento é enorme e preocupante em relação ao futuro, pois agora poucas pessoas estão interessadas em viajar. Quase todo mundo está esperando para ver como ficará a situação antes de planejar algo. Sem contar que o dólar subiu muito, e isso afugenta até quem estava querendo comprar pacotes para o segundo semestre ou o ano que vem”, explica Andreza.

Renata Souza
Andreza Trivillin com a família no parque da Disney em Orlando | Renata Souza
Andreza Trivillin com a família no parque Epcot, da Disney World, em Orlando

Mudanças no longo prazo

Como as notícias vindas da China foram absorvidas com certo descaso no mundo ocidental, inclusive por algumas autoridades, as informações a respeito da pandemia e de seu profundo impacto para quem vive do turismo em Orlando chegaram lentamente. Assim como em outros lugares dos Estados Unidos ou mesmo do Brasil, o sinal de alerta só soou para valer em meados de março.

“Percebi que o negócio estava realmente feio quando o vírus se espalhou por Itália e Espanha. O choque de realidade foi pesado, pois morei 13 anos na Espanha antes de vir para os Estados Unidos e temos muitos parentes e amigos por lá”, relata o youtuber brasileiro Brancoala.

O cenário para o futuro, na opinião do especialista, é ainda menos animador. “Até agora não fui afetado pela crise, mas isso vai acontecer de alguma forma. O YouTube é alimentado, principalmente, por marcas que anunciam na plataforma, e essa é nossa forma de monetização. Como o vírus também está atingindo em cheio as empresas, já que a economia está parada, daqui para frente deve haver grandes impactos negativos nos contratos publicitários”, afirma Brancoala.

De acordo com o youtuber, muitos influenciadores, entre eles brasileiros que vivem de mídias sociais em Orlando, ainda estão colhendo resultados de acordos comerciais fechados no começo de 2020. “No ano que vem, porém, o cenário deve ser bastante instável”, conclui.

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Youtuber com a família no parque da Disney, na Flórida | Divulgação
O youtuber Brancoala com a família no Magic Kingdom, em Orlando

Orlando vazia

Assim como ocorreu em todo o mundo, a maior parte dos moradores de Orlando teve sua rotina alterada depois que as recomendações de isolamento foram decretadas. Brancoala, por exemplo, precisou fazer algumas adaptações para se adequar ao home office.

“Estava acostumado a produzir muito vídeo externo, como os materiais em formato de vlog que capturava nos parques temáticos da cidade. Agora, todo o trabalho está concentrado em casa, com a família ”, explica o youtuber.

Diante dessa realidade, quem se aventura hoje a ir às ruas em Orlando encontra um vazio avassalador. Os espaços criativos, lúdicos e iluminados, que enchiam os olhos dos turistas e estavam sempre repletos de pessoas, agora estão desocupados.

“Fui até à área da Walt Disney World e à International Drive (avenida mais turísticas da cidade) e me deparei com um cenário assustador. Tudo estava fechado, havia pouquíssimos carros e as ruas estavam vazias”, comenta Andreza.

Muitos restaurantes estão funcionando praticamente no escuro, com placas improvisadas na porta avisando que estão trabalhando apenas com entregas e retiradas, já que não é permitido comer neles. “Realmente é algo que nunca imaginamos ver. Orlando é uma cidade sempre tão cheia de magia e energia… Agora, está praticamente um deserto”, conclui Andreza.

Renata Souza
Andreza Trivillin é dona do "Dica e Indica" | Renata Souza
Andreza Trivillin comanda o blog “Andreza Dica e Indica”

A quarentena

Atualmente, os casos atestados de pessoas contaminadas pelo coronavírus ao redor do mundo já ultrapassaram os 3 milhões. Dessas, mais de 200 mil foram a óbito.

A pandemia, que teve início na Ásia e, posteriormente, atingiu a Europa, tem como epicentro nas últimas semanas os Estados Unidos. Há mais de 1 milhão de casos confirmados no país, com mais de 56 mil mortes registradas.

O condado de Orange, na Flórida, onde fica Orlando, tem mais de 1,3 mil casos positivos. Por conta disso, mesmo com alguns processos de reabertura econômica em curso na região, muita gente ainda não se sente segura para sair de casa.

“Aqui, só vamos ao supermercado mais ou menos a cada duas semanas. Alguns comércios estão abertos, mas com recomendações para os consumidores ficarem do lado de fora, manter distância ou fazer o pedido por telefone e depois voltar para retirar. É perceptível o ambiente de tensão”, relata Brancoala.

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Brancoala com a mulher e os filhos em Orlando | Divulgação
Brancoala costumava fazer vídeos externos, mas agora tem trabalhado em casa

Como ficarão os parques pós-pandemia

Para alguns especialistas, a vigilância sanitária será redobrada em Orlando após o fim da quarentena. Assim como o atentado de 11 de setembro provocou mudanças na segurança, como a adoção de verificar bolsas e malas e a introdução de detectores de metais, a covid-19 deve ser responsável pela criação de novas medidas em prol da saúde pública.

A checagem de temperatura, por exemplo, poderá se tornar um procedimento padrão para quem vai aos parques, ao menos até houver uma vacina e certificados que comprovem as dosagens. O uso de máscaras obrigatório não é descartado, bem como a ampliação dos serviços de filas virtuais, a fim de evitar a proximidade das pessoas.

“É difícil pensar como isso poderá ser viabilizado, mas acredito que o futuro das atrações locais está diretamente relacionado a muita limpeza e higienização. Algumas medidas, no entanto, podem ser realmente desafiadoras, como manter as crianças de máscara o dia todo e se policiar para não tocar em nada”, comenta Andreza. “Penso até nas fotos. Como ficarão os sorrisos escondidos pelas máscaras? Não será fácil”, acrescenta.

Arquivo pessoal
Carol Grabova
Carolina aposta na redução da capacidade dos parques e na reabertura em fases

Carolina tem visão semelhante. “É ingenuidade imaginar que, de um dia para o outro, tudo vai voltar ao normal. Quando os lugares começarem a reabrir, diversas medidas terão de ser tomadas. Tenho certeza que os responsáveis pelos parques, hotéis e restaurantes vão analisar diversos cenários. Creio que haverá reduções na capacidade dos lugares e a reabertura se dará em fases”, conclui.

Covid-19 pelo mundo: série de entrevistas 

O Busca Voluntária e o Rota de Férias estão conversando com pessoas de todo o planeta para saber como o coronavírus está afetando a realidade de suas cidades. Confira os outros capítulos da série:

Capítulo 1: Covid-19 pelo mundo: advogada relata o dia a dia na Cidade do México
Capítulo 2: Covid-19 pelo mundo: brasileira conta como está a vida em Santiago
Capítulo 3: Covid-19 pelo mundo: “estamos melhorando aos poucos”, diz morador de Bréscia
Capítulo 4: Covid-19 pelo mundo: americanos contam como está a vida em Denver
Capítulo 5: Covid-19 pelo mundo: brasileiro fala sobre a quarentena no Canadá
Capítulo 6: Covid-19 pelo mundo: estudante vislumbra caos no México pós-pandemia 
Capítulo 7: Covid-19 pelo mundo: “muitos negócios já faliram”, diz brasileira que vive em Nova York

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