A literatura brasileira é marcada, muitas vezes, por nomes masculinos. Mas as raízes também contam com grandes autoras brasileiras que não só ajudaram a construir, como fizeram e ainda fazem história nas áreas culturais e na educação.
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“Há algumas décadas, escrever não era considerada uma atividade válida a ser praticada por mulheres. Elas acabavam proibidas ou muitas vezes invalidadas e suas obras eram apenas classificadas como ‘leitura feminina’. Diversas escritoras passaram a usar pseudônimos masculinos para que seus livros e poemas não fossem boicotados ou impedidos de serem publicados”, explica Tomaz Adour, fundador e editor-chefe da Editora Vermelho Marinho.
Um exemplo é Julia Lopes de Almeida, uma das maiores autoras brasileiras, que foi impedida de fazer parte da Academia Brasileira de Letras (ABL). Mesmo comparecendo às reuniões e sendo uma das fundadoras, ela foi renegada e a cadeira que deveria lhe pertencer foi concedida ao seu esposo, Filinto de Almeida. “Julia trazia consigo a certeza de que deveria lutar pelos seus direitos. Por meio de seus romances, levantou pautas não tão abordadas na época, nos quais defendia e debatia o direito das mulheres ao voto, ao estudo, ao divórcio e tantos outros. Sendo assim, ficou conhecida por sua forma única de escrever e criticar a situação social do País”, resume Tomaz.
Para o editor, a cadeira de número 3 da ABL deveria pertencer a Julia, mas mesmo participando ativamente da construção e fazendo parte da história, lhe tiraram seu lugar simplesmente por ser mulher. “Por isso, acredito que seja tão importante sempre lembrarmos da relevância do protagonismo feminino em uma área tão sexista como a literatura”, afirma ele.
Cultura machista perdura até hoje
A cultura machista segue refletida na literatura, considerando que, ainda hoje, das 40 cadeiras de membros da Academia Brasileira de Letras, somente cinco são ocupadas por mulheres. Ou seja, mesmo com toda a contribuição para a popularização da literatura, a representatividade feminina continua sendo mínima.
Francisca Júlia foi uma das autoras brasileiras que se negou a fazer parte da ABL, pois não acreditava que modelos de academia davam certo. A profissional teve seu primeiro poema publicado em 1891, mas sofreu críticas extremamente negativas do autor Severiano de Rezende. Ele a aconselhou a parar de escrever e realizar outras atividades, como “trabalhos de agulha”.
A autora seguiu produzindo e, no ano de 1895, publicou sua primeira obra, o livro “Mármores”, que teve uma ótima repercussão e foi alvo de diversos elogios de nomes como Olavo Bilac e Vicente de Carvalho. Tempos depois, mais um empecilho em sua trajetória: a autora foi acusada de plágio pelo poeta cubano José María de Heredia. Mesmo com todos os problemas enfrentados durante a carreira, Francisca é uma das grandes e consagradas escritoras da literatura brasileira.
“Essas foram duas autoras brasileiras dentre tantas outras mulheres incríveis que são representativas na literatura nacional, mas que não tiveram seu trabalho valorizado como mereciam na época, embora sempre estivessem à frente de seu tempo, não deixando que os diversos desafios fizessem com que suas obras ficassem para trás”, finaliza Tomaz.
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