Dry Needling: Tratamento para Dor no Pescoço ganha Espaço entre Médicos Brasileiros
A dor cervical, popularmente conhecida como dor no pescoço, é uma condição altamente prevalente que afeta milhões de brasileiros anualmente. De acordo com dados recentes, aproximadamente 30% a 50% das pessoas terão pelo menos um episódio de dor cervical em algum momento durante o ano.
Em termos de frequência, estima-se que 30% a 50% das pessoas apresentam pelo menos um episódio de dor no pescoço ao longo de um ano, percentual que pode chegar a 76% em grupos ocupacionais de risco (por exemplo, trabalhadores de escritório ou profissões com exigência postural)
A Dor que Paralisa: Dor no Pescoço Aflige Milhões de Brasileiros
A sensação incômoda ou até incapacitante de dor na região cervical está longe de ser um problema isolado no Brasil. Dados de São Paulo indicam que a dor crônica na coluna (incluindo cervical, torácica e lombar), definida como dor persistente por três meses ou mais, afeta 22% da população adulta, sendo que 5,7% reportaram especificamente dor crônica no pescoço.
A comparação entre a alta prevalência anual e a prevalência de dor crônica sugere que, para uma parcela significativa de pessoas, a dor cervical aguda ou episódica pode evoluir para um quadro persistente, tornando-se um fardo constante. Este cenário de cronificação ressalta a necessidade de tratamentos eficazes que vão além do alívio temporário.
Buscando Alívio: Limitações dos Tratamentos Convencionais
A primeira linha de tratamento para a dor cervical frequentemente envolve o uso de medicamentos. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno, são comumente prescritos para aliviar a dor e a inflamação. No entanto, seu uso, especialmente a longo prazo, não é isento de riscos. Efeitos adversos gastrointestinais (como gastrite e úlceras) e cardiovasculares (aumento do risco de infarto e AVC) são preocupações significativas associadas a esta classe de medicamentos. Além disso, devem ser usados com cautela em pacientes com problemas renais ou múltiplos fatores de risco cardiovascular.
Para dores mais intensas ou persistentes, analgésicos opioides podem ser considerados. Contudo, seu uso para dor crônica não oncológica é controverso devido ao potencial de efeitos colaterais como sedação, constipação, náuseas, e o risco mais grave de tolerância, dependência física e transtorno por uso de opioides (vício). A prescrição de opioides a longo prazo exige cautela e monitoramento rigoroso, sendo a eficácia e segurança para uso prolongado em dor crônica ainda incertas.
Essas limitações – eficácia parcial, perfil de efeitos colaterais e riscos associados ao uso prolongado – levam a uma insatisfação considerável por parte dos pacientes. Muitos se veem presos em um ciclo de dor persistente, buscando alívio sem sucesso completo ou tendo que lidar com os ônus dos tratamentos farmacológicos. Essa “lacuna terapêutica” evidencia a necessidade de alternativas seguras e eficazes. A crescente conscientização sobre os riscos de medicamentos, como a crise de opioides em outros países, também impulsiona a busca por abordagens não farmacológicas, tornando intervenções como o Agulhamento a Seco uma opção cada vez mais relevante e alinhada às tendências modernas da medicina da dor.
Agulhamento a Seco: Ciência Médica Contra a Dor
O Agulhamento Seco (Dry Needling) é definido como uma intervenção qualificada que utiliza agulhas filiformes finas e sólidas – semelhantes às usadas na acupuntura, porém aplicadas com propósito e técnica distintos – para penetrar a pele e estimular estruturas específicas, sem a injeção de qualquer substância (daí o termo “a seco”). O principal alvo da técnica são os chamados pontos-gatilho miofasciais, que são nódulos ou pontos hipersensíveis localizados dentro de uma banda muscular tensa. Além desses nós, a agulha pode ser usada para estimular o próprio músculo, fáscias e tecido conjuntivo adjacente. É importante ressaltar que se trata de uma técnica desenvolvida no ocidente, fundamentada na compreensão moderna da neurofisiologia, anatomia e biomecânica do sistema musculoesquelético.
Segundo o Dr. Marcus Yu Bin Pai, médico especialista em Dor pela Universidade de São Paulo (USP), “o agulhamento seco tem se mostrado eficaz especialmente nos casos em que tratamentos tradicionais não trazem resultados satisfatórios, pois atua diretamente na origem muscular da dor”.
Uma revisão sistemática recente confirmou a eficácia do dry needling na redução da dor cervical, com resultados significativos em curto e médio prazo. Estudos comparativos indicam que a técnica pode alcançar resultados semelhantes aos das infiltrações com anestésicos locais, porém sem o risco adicional dos efeitos colaterais farmacológicos.
“Ao inserir a agulha diretamente no ponto gatilho, provocamos uma resposta muscular que relaxa as fibras tensionadas e melhora a circulação local, contribuindo para a redução da dor”, explica o Dr. Pai.
Além disso, pesquisas clínicas recentes têm demonstrado benefícios adicionais do dry needling quando associado a programas de fisioterapia e exercícios específicos, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar para o tratamento da dor cervical.
“Pacientes que combinam sessões de agulhamento seco com exercícios terapêuticos apresentam resultados mais consistentes e duradouros do que aqueles tratados exclusivamente com medicamentos”, afirma o especialista.
Importância da Avaliação com Especialista
Vale salientar que os tratamentos farmacológicos atuam de forma sistêmica e podem ser indispensáveis em muitos casos, especialmente em dores agudas intensas ou quando há componente inflamatório importante. Entretanto, as terapias não farmacológicas como o agulhamento seco oferecem um caminho paralelo de manejo, focado na causa muscular e sem os efeitos colaterais sistêmicos dos medicamentos (como sonolência dos relaxantes ou problemas gástricos dos antiinflamatórios). Assim, muitos especialistas defendem uma abordagem integrativa: utilizar o agulhamento seco como parte do tratamento multidisciplinar da dor cervical, reduzindo a necessidade de polimedicação.
Com o crescente interesse dos pacientes por abordagens não farmacológicas e com menos efeitos adversos, o agulhamento seco tem ganhado espaço significativo nas clínicas de dor e reabilitação brasileiras, consolidando-se como uma alternativa terapêutica válida e cientificamente fundamentada para a dor cervical.